terça-feira, 1 de maio de 2012

Entrevista de Hugo Laurentino ao jornal "O Jogo"

Entrevista publicada no jornal "O Jogo"

Hugo Laurentino, natural de Évora, cedo deu nas vistas e não escapou ao faro do dirigente José Magalhães.

Aos 16 anos já jogava no FC Porto e ainda na formação já ganhava títulos.
Perto de completar 28 anos, o melhor guardião do campeonato, dragão de ouro em 2010, está definitivamente enraizado na Invicta, da qual se diz "impressionado pelas gentes acolhedoras" - "Ajudam facilmente uma pessoa que não conhecem, como se fosse um amigo".

Em Junho, vai dar o nó e a sua vida correrá entre Porto e Ovar, cidade da namorada Ana.
O andebol ocupa-lhe os dias, tanto que interrompeu o curso de fisioterapia, restando-lhe pouco tempo para outros hobis, embora encontre sempre agenda para a sesta, velho hábito alentejano que, assegura, o ajuda "a renovar energias".

Por Paula Capela Martins/Marta Fernandes

Ainda não acabou o campeonato e o FC Porto já é campeão, festejando, 52 anos depois, o segundo tetra da história. Hugo Laurentino, há 12 anos de dragão ao peito, é um dos jogadores-chave, mas ele diz, do alto da sua humildade, que o segredo está na união.

Quando vos começou a cheirar a tetra?
Quando acabou a primeira fase e éramos líderes e as outras equipas é que tinham de trabalhar para nos conseguir alcançar, começámos a sonhar. Na segunda fase, quando fizemos os dois jogos, com o Benfica e com o Sporting, que são os nossos adversários mais diretos, essas duas vitórias deram-nos uma margem de manobra maior. Era quase impossível o título nos fugir com a vitória caseira frente ao Benfica. Ir a casa do Sporting ganhar era difícil, mas não era impossível.

Benfica e Sporting foram os principais obstáculos? E o Madeira SAD?
Perdemos na Luz, em casa do Sporting e ainda faltam três jogos e não sei o que pode acontecer. Com o Madeira empatámos dois jogos. E é verdade, o Madeira e o Águas Santas foram adversários difíceis.

Este foi o campeonato mais difícil dos quatro?
Talvez um dos mais saborosos. Entrámos na história do clube. Somos a segunda equipa a fazê-lo e podemos fazer história novamente se conseguirmos o penta. Mas este não foi o título mais difícil. O primeiro, sim, por ter sido o primeiro e por ter sido disputado no play-off.

Qual o momento mais marcante deste tetra?
Começámos mal com a derrota na Luz. Quanto ao Sporting, a derrota não estava prevista, nem a da Taça e esta final foi um dos momentos menos bons, porque um dos nossos sonhos é a dobradinha, que foge sempre no último momento.

Como fazem para reagir às adversidades?
Este ano raramente a nossa equipa esteve completa. O Wilson, o Gilberto, o Moreira, o Dario estiveram lesionados; o Tiago Rocha castigado logo no início; o Daymaro só chegou em dezembro; o quintana esteve dois meses sem jogar; o Elias chegou a meio, mas conseguimos ultrapassar sempre esses momentos com união. O nosso companheirismo é fabuloso.

O que tem o FC Porto que os outros não têm?
Uma das diferenças está nos jogos em casa. Há quanto tempo não perdemos em casa? Há alguns 59 jogos. A forma de trabalhar dos outros é que talvez tenha de mudar.

Qual o vosso segredo?
O nosso segredo tem sido sempre o mesmo: trabalho e respeito pelo adversário, qualquer que seja. A forma de trabalhar e a forma como encaramos os jogos é sempre igual. E o nosso ponto forte é a defesa. O treinador diz que os campeonatos se ganham na defesa e que o ataque é para os adeptos. Se fizermos uma boa defesa, o ataque vai sair com mais fluidez e tranquilidade.

Nos últimos três anos o Benfica vem investindo, mas falhando o objetivo do título. Contratou ao FC Porto um guarda-redes e dois laterais. Como analisa o rival?
Gosto mais de pensar no FC Porto. Isso é um problema deles.

"Obradovic é um amigo e 100% profissional"
A equipa sentiu no final da fase regular que o título dificilmente fugiria, mas o treinador Ljubomir Obradovic, zangado, disse, após a recepção ao Madeira, que é proibido festejar por antecipação e que esse espírito provocou o empate. Concorda? Foi isso que ele vos disse?
Não foi por relaxe. Não soubemos controlar o jogo, talvez por falta de experiência. Foi um jogo que nos correu menos bem. Mas ele disse-nos que uma equipa que quer ser campeã não pode falhar nesses momentos. Não podemos ter uma vantagem de sete golos e nos deixar empatar.

Como definiria este treinador de ar sério, pouco comunicativo?
É nosso amigo fora do jogo. Pode ser mesmo o nosso melhor amigo. Falamos com ele, ele brinca connosco e nós com ele. É cem por cento profissional. Trata todos por igual. Quando chegou não estávamos tão habituados à forma de ser dele. Mas adaptámo-nos a ele e ele a nós. Sei que para as pessoas de fora, às vezes, é um pouco estranho, mas é a maneira de ser dele e temos de respeitar.

Ele também festejou?
Claro que sim. Fomos todos para o café ao lado do pavilhão do Águas Santas. Comemos, bebemos cerveja e ele era um dos principais intervenientes e estava sempre na brincadeira com toda a gente. É uma boa pessoa.

"O selecionador não pode apontar-me nada"

Diz a estatística que é o guarda-redes mais eficaz do campeonato, mas apesar disso não joga na seleção. É uma mágoa?
O selecionador não pode apontar-me nada. Quando chego à seleção trabalho da mesma maneira como trabalho no clube. Se ele pensa que o Hugo Figueira é o guarda-redes que deve jogar, só tenho de aceitar. Quando ele achar que é a minha altura de ajudar, vou dar o meu melhor. Não tenho nada contra o Hugo Figueira. Toda a gente sabe que ele é um excelente guarda-redes e tem demonstrado.

Estranha que uma equipa tetracampeã tenha apenas um internacional titular?
É estranho. Praticamente os jogadores do FC Porto não integram as principais opções, a não ser o Tiago Rocha. No Porto, estamos habituados a ganhar e quando sentimos que não fazemos parte dos planos, custa-nos um pouco.

Como vê as sucessivas fases finais falhadas pela seleção?
Aos jogadores portugueses falta-lhes a experiência da Liga dos Campeões. E falta a Portugal fases finais de europeus e mundiais, também um pouco por azar, porque no apuramento um ano calhou-nos a França, noutro a Espanha. Foram jogos difíceis e sabemos que ambas estão um pouco acima de nós.

A Liga dos Campeões tem sido um enguiço para o FC Porto...
Na Eslováquia, fizemos um jogo fantástico contra o Presov. Poucos ganham em Presov e nós ganhámos. Mas contra o Partizan de Belgrado fomos abaixo fisicamente. Adorava jogar uma Liga dos Campeões. Li, há dias, uma entrevista do Carlos Resende em que ele dizia que quando era jogador o que o levou ao ABC foi a possibilidade de jogar na Liga dos Campeões e que cresceu a jogar esta prova. É o que nos falta.

Também faltou a Taça de Portugal e com ela a dobradinha...
Nas meias-finais tivemos um jogo mais duro do que teve o Sporting e o cansaço notou-se na final. Estivemos sempre a ganhar, mas perdemos nos últimos lances.

1 comentário:

Penta disse...

@ Paulo

grande entrevista, sim senhor ;)

abr@ço
Miguel | Tomo II