sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Estremecimento

Dei voltas à cabeça tentando encontrar o vocábulo mais adequado aos muitos momentos de vibração que experimento no majestoso Estádio do Dragão sempre que lá entro.


 












Vibração já em si é um bom vocábulo, mas não é só isso que eu lá dentro vivo.

A vibração é um fenómeno físico, sinónimo de oscilação mecânica, muito rápida e mensurável.

Não, não é vibração aquilo que lá experimento. É vibração, mas uma vibração que me atira para níveis superiores de sensibilidade, exaltação e sublimidade.

Quando o FC Porto marca aquele golo ao Benfica, e também aos grandes clubes europeus, como o Real, o Liverpool, o Bayern, o United, o City e outros que são pares do FC Porto no nosso Continente, quando as bancadas fremem de emoção, porque ainda não estamos a ganhar, porque já estamos a ganhar, porque estamos a perder ou porque virámos o resultado, aquele sentimento é mais do que uma vibração, sem dúvida, é um estremecimento. Um estremecimento.

“Estremecimento” foi a palavra que encontrei, de todas as que analisei, para traduzir aquela devoção, paixão e aturdimento a que me entrego naqueles momentos.

Eu sei que “estremecimento” também pode ser utilizado como oscilação, num tremor de terra, ou no rebentamento de tiros de pedreira, por exemplo. Mas “estremecimento” tem um degrau superior de comoção e abanão interior.

Não “estremece” a mãe de amor pelo filhinho que tem ao colo? Não “estremece” de alegria, quando ele já gatinha, quando ele já diz “mamã”, quando ele já anda?

Pois bem, quando eu vejo o Porto no Dragão, basta a equipa a entrar, “estremeço” de emoção.

É curioso que o estremecimento de cada um, somado ao de cada um dos outros, provoca o estremecimento global da massa associativa, e o estremecimento global da massa associativa ainda potencia mais o de cada um.

As claques do Porto, abençoadas sejam, tanto os Super quanto a Curva Norte (Colectivo) contribuem muito para o estremecimento global.

Infelizmente a grande maioria dos associados presentes no Estádio é dum comodismo inaudito. Levanta-se e grita quando é golo, senta-se e come pipoca o resto do tempo.

Eu sei que tudo isto é Porto, mas custa-me ver o nosso estádio caladinho, durante os jogos – às vezes jogos muito importantes – silêncio apenas interrompido quando de um golo ou de um quase-golo.

Bem hajam as claques, repito, a dos Super e a do Colectivo, que tentam contrariar esta tendência para o quietismo.

Quando olhamos para os estádios do Liverpool, do Celtic, da Sampdória e doutros, tantos, pela Europa fora, em dias de jogo, e depois para o Dragão, vemos a diferença da adesão de toda a massa associativa aos cânticos, que não existe no Dragão.

As claques do FC Porto têm que se transformar, crescer, alargar, cativar o resto da massa associativa com o seu comportamento pacífico e festivo, com os seus cânticos renovados – porque não aproveitar canções do cancioneiro tradicional português adaptadas com letras alusivas ao FC Porto?

O Estádio do Dragão todo de pé, os cachecóis azuis e brancos no ar, os adeptos de camisola igual à dos jogadores, tudo a cantar o Porto Sentido de Rui Veloso, por exemplo, será que algum de nós perderia tempo a ouvir o “You’ll Never Walk Alone” do Liverpool?

Aí o meu “estremecimento” atingiria os píncaros da sensibilidade humanamente possível.

4 comentários:

Penta disse...

muito bom!

somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!

saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todas(os) vós! ;)
Miguel | Tomo II

Dragus Invictus disse...

Boa tarde amigo azulibranco,

Parabéns uma vez mais, tem-nos presenteado com post's cheios de emoção e este em particular descreve como ninguém o sentimento que se vive no Dragão.

Eloquente e lindo!

Obrigado pelo seu fantástico contributo para este nosso blog.

Abraço e bom fim de semana

Paulo

Azulibranco disse...

Obrigado, Dragus, pelas suas palavras encorajadoras.
Continuarei.

Azulibranco disse...

Obrigado, ℙΣ₦₮∀ ➀➈➆➄℠, pelo seu comentário.