O Maior Troféu do Mundo
Corria a época de 1947/48 e o FC Porto convidou o Arsenal, considerado na altura o melhor clube do mundo, para um jogo particular. Foi a 6 de Maio de 1948, no Estádio do Lima e ficou FC Porto 3 - Arsenal 2.
Vivia-se ainda o período do pós-guerra, quando os «gunners», considerados na altura a melhor equipa do mundo, se deslocaram à Cidade Invicta para fazer um amigável contra os azuis e brancos.
Era um jogo do David contra o Golias.
Pelo FC Porto alinharam Barrigana, Alfredo Pais, Francisco, Virgílio, Romão, Joaquim, Lourenço, Araújo, Correia Dias, Gastão e Catolino, treinados pelo Sr. Vachetto.
Na altura toda a gente acreditava que o FC Porto não teria a mínima das hipóteses em levar de vencido um conjunto que era composto por alguns dos melhores jogadores do planeta e orientada por um dos maiores “mestres da táctica” de todos os tempos: Herbert Chapman.
Nada mais nada menos do que o treinador que havia inventado a táctica do W.M.
Miguel Lourenço Pereira in Huddersfield, o laboratório de Chapman
Foi a maior revolução táctica dos primeiros 50 anos do século XX. Manteve-se até aos anos 50 em muitos países como o principal sistema táctico. Caiu em desuso com a popularidade do 4-2-4 húngaro e brasileiro (que depois passariam ao formato 4-4-2 e 4-3-3 a partir dos anos 60). E resultou obra de uma mente privilegiada que resultou como peça chave na evolução táctica do jogo. A aplicação do WM era a chave do sucesso gunner. Isso e a insistência de Chapman em rodear-se dos melhores. O técnico tardou alguns anos em fazer do seu modelo vencedor. Mas quando deu na tecla certa a equipa nunca mais o desiludiu. Contratou os melhores, montou uma geração de talentos únicos como Highbury Park não voltaria a conhecer. E dominou a First Division anos a fio. Para a história ficou o seu papel como treinador do Arsenal.
O Arsenal nesse ano, vinha de uma digressão 100 % vitoriosa, por diversos países da europa… e só tombou no Estádio do Lima perante o FC Porto.
A cidade engalanou-se e despertou o interesse dos amantes de uma modalidade que ainda dava os primeiros passos no nosso País. E não era para menos, a cidade do Porto recebia a melhor equipa do Mundo da altura, oriunda do país que inventou o futebol (Inglaterra), para defrontar o clube da sua cidade.
Para surpresa de muitos, talvez de todos, os dragões escaparam à humilhação anunciada e venceram por 3-2, numa partida jogada no antigo Estádio do Lima. O F.C. Porto tinha como treinador o argentino Eladio Vaschetto e os marcadores dos golos que selaram a histórica vitória foram Correia Dias (2) e Araújo. Aos 30 minutos, os portistas já venciam por 3-0 e depois foi só resistir aos constantes bombardeamentos dos canhões de Londres.
Apesar do carácter amigável da contenda, o triunfo teve também um sabor especial porque foi conseguido pouco tempo após a selecção de Inglaterra ter esmagado por 10-0 a selecção portuguesa.
Vitória no Lima dá direito à aquisição do maior troféu do mundo
Já um ano depois da realização do inesquecível duelo com o Arsenal, alguns sócios do F.C. Porto entenderam perpetuar o feito através da feitura de um troféu. Decidiram chamá-lo Taça Arsenal e após uma subscrição pública a que centenas de simpatizantes aderiram, foi recolhido dinheiro suficiente para fazer do ceptro algo de majestoso.
O troféu divide-se em duas peças: o relicário, que pesa mais de 120 quilos e tem 2,8 metros de altura; e, no interior, uma taça totalmente em prata.
No total, este grupo de associados investiram 200 contos, na antiga moeda, no ano de 1949. Uma fortuna, está bom de ver. Registe-se que esta gigantesca peça ainda hoje pode ser vista no museu do F.C. Porto. Para finalizar, deixamos o nome dos seis sócios que avançaram para a subscrição pública e tornaram possível oferecer ao clube aquele que entrou no «guiness» por ser o maior troféu do mundo. Esses homens foram Eduardo Soares, José Moreira, Ivo Araújo, Manuel Ferreira, Elói da Silva e Torcato Plácido.
Concepcionada pela Ourivesaria Aliança, na sequência de um esboço dos escultores Marinho Brito e Albano França, este é sem margem para dúvidas um dos troféus mais bonitos e imponentes que figuram nas vitrinas do FC Porto.
5 comentários:
excelente artigo, mais uma vez. no livro que acabei de ler, "Inverting the Pyramid", descreve na perfeição a forma como Chapman criou o W-M e a sua evolução ao longo dos tempos, para o 4-2-4 and so on. gostei particularmente da forma como a mentalidade britânica se foi mantendo constante ao passo que o resto do mundo ia modificando hábitos e costumes.
abraço,
Jorge
Porta19
Olá Jorge,
Realmente o futebol inglês esteve sempre mais à frente, em termos de revoluções tácticas e Chapman com o seu WM revolucionou o futebol de então.
Chapman analisava os adversários ao pormenor. Os pontos a favor e pontos contra de cada jogador adversário.
Dava lições tácticas aos jogadores.
Corrigia as suas deficiências e majorava as suas virtudes.
Privilegiava a organização colectiva.
Hoje muitos se intitulam mestres da táctica ... mas poucos ficaram na história como Herbert Chapman.
Vê neste vídeo a configuração táctica dos campeões de 55/56.
http://www.youtube.com/watch?v=jRPtyoOupLY&feature=player_embedded
É tão bom recordar feitos tão bonitos como este!
Viva o Porto!
Herbert Chapman tem um lugar histórico na História do Arsenal, na entrada do antigo Highbury e hoje, no moderno Emirats.
Arsenal viveu ao longo dos seus 125 anos de História moementos gloriosos dos quais atestam os diveros títulos conquistados internamente e internacionalmente. À semelhança do F.C. Porto, têm passado pelas suas fileiras diversos jogadore sonantes, tem tido boas equipas de jovens e domina o panorama do futebol feminino. Desde que ingressou há mais de um séculoo escalão principal do futebol inglês, é, a a par do Everton, o único clube que nunca desceu de divisão.
Moreira
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