sábado, 21 de maio de 2011

FC Porto - Época 2010/2011 vista por um portista

André Villas-Boas? Huuum, confesso que tive algumas reticências, essencialmente pela sua juventude e falta de experiência, embora o seu longo trabalho com José Mourinho me desse um certo conforto e expectativas de mais um tiro na mouche da parte do meu presidente. Os jogadores eram praticamente os mesmos da temporada transacta, facto que costuma ser uma mais valia para qualquer clube que pretende atingir os objectivos a que se propõe. O habitual estágio no exterior não foi convincente, de todo, mas é sempre um ponto focal para preparar todos os desafios que são sempre para ganhar e é nesse espaço temporal que se constrói uma verdadeira equipa, um grupo coeso, quase uma família. O jogo de apresentação aos sócios (orgulho-me de o ser) já deu mostras dum Porto enfortecido, mas eu continuava a ver Villas-Boas como uma aposta mais arriscada do que, por exemplo, Domingos ou Paulo Bento.

Poucas são as vezes em que não somos favoritos numa Supertaça Cândido de Oliveira, mas o facto é que, com alguma dose de naturalidade, esse estatuto de favorito foi dado ao então campeão em título. Nem sempre o que parece é, e o Porto deu, nesse jogo contra o benfica, provas que estava melhor, que tinha um grupo unido, já com uma filosofia de jogo diferente, com mais vontade de vencer, e cumpriu-se a tradição, lá veio mais um caneco para o Dragão, com justiça, pois fomos realmente eficazes, embora ainda longe da eficiência que se pretende numa equipa ambiciosa em que cada jogador tem que dar tudo pelo símbolo ostentado no peito.

A Liga Zon-Sagres começava com consecutivas vitórias do meu clube, facto que deixava antever que iríamos arrecadar o nosso 25.º título, penso que isso ficou logo bem patente com as exibições tranquilas e resultados volumosos. Só não sabia é que ia ver o Porto a dar 5-0 ao SLB pela 2.ª vez na História. Também não imaginaria que o nosso destino fosse ganhar o campeonato na Luz com um vergonhoso apagão no final dessa fenomenal vitória, água a surgir de baixo para cima, mas tudo isso foi aproveitado para enaltecer uma festa com um sabor delicioso. Nessa noite, fez-se luz ao fundo dos tão já famosos túneis, a luz dos novos heróis que pareciam imparáveis e eram, de facto. Os outros perderam o titulo humilhados em casa... Acontece, mas não a todos! E Campeões sem derrotas, alguém acreditava? Eu já acreditava em tudo, e tive mais essa imensa alegria, culminada com a nova taça que é radiosa, diga-se de passagem. Um campeonato limpinho para não mais esquecer.

Quanto à Taça da Liga, custou-me ver o Porto perder em casa com o Nacional, até porque foi a nossa primeira derrota da época em jogos oficiais, contudo, penso que foi incutida a ideia de menorizar aquele troféu e até acham piada ao facto de não lutar condignamente por essa competição. Eu, pessoalmente, fico furioso com essa atitude passiva porque qualquer competição interna o FC Porto tem obrigação de ganhar.

Foi baseado nessa obrigatoriedade que os Dragões não se deram por vencidos nas meias-finais da Taça de Portugal frente aos encarnados da 2.ª Circular, a duas mãos. A derrota por 2-0 na nossa casa, colocava as águias com uma pata na final, todavia, o FC Porto teve o mérito de contrariar todas as certezas e tivemos mais uma noite memorável num ninho que já se tornou o nosso salão de festas. Conseguimos humilha-los de novo, fomos iguais a nós próprios e a presença no Jamor é superiormente merecida. Amanhã lá estaremos!

Na Europa, fomos passeando os nossos pergaminhos, já que temos uma larga tradição nas competições internacionais. Dois nomes realçavam nesta Liga Europa: FC Porto e Liverpool. A equipa inglesa foi surpreendentemente eliminada pelo Braga, equipa portuguesa que "arrumou" outros grandes emblemas do panorama europeu, sendo que, nas meias finais, impediu os benfiquistas de terem o prazer de estarem presentes em Dublin. O Porto, por sua vez, depois de eliminar o Sevilha, o Spartak e o CSKA de Moscovo, sentenciou logo a 1.ª mão da outra meia final, ao derrotar em casa os espanhóis do Villarreal por 5-1, naquele que foi o melhor jogo de futebol que já assisti ao vivo. Tive essa honra. Na Final histórica, totalmente portuguesa, o jogo com o Braga não foi bonito, longe disso, mas valeu mais uma grande conquista para as vitrinas azuis e brancas, valendo o golo solitário de Radamel Falcao, para total felicidade de milhões de portistas.

Hulk, Falcao, Helton, Guarin e João Moutinho (a tal maçã podre) foram, a meu ver, as pedras que mais se destacaram numa das melhores formações que o FC Porto já teve. O jovem mister AVB conseguiu apagar o fantasma dos êxitos já distantes de Mourinho. Acima de tudo, é um portista de corpo e alma.

Porto, mesmo condenado com uma deficiência grave, nasceria de novo só para te ver jogar.

Manuel Costa, Maio de 2011

 

1 comentário:

Dragus Invictus disse...

Boa noite Manuel,

Fantástico post. Parabéns pela excelente retrospectiva da época que apresentaste neste excelente texto.

Um grande abraço

Paulo