quarta-feira, 13 de julho de 2011

Vitor Pereira "imprime" pressão alta

Publicado no jornal "O Jogo"

Parece cada vez mais evidente que este FC Porto, versão Vítor Pereira, tem ordens para pressionar mais alto do que com Villas-Boas. Na prática, logo à saída da área contrária, na tentativa de obrigar o adversário ao erro, impedindo-o de respirar. Para isso, o FC Porto terá de aumentar os níveis de intensidade e agressividade, questões que têm sido privilegiadas neste estágio em terras alemãs.

Contra o Gutersloh isso mesmo foi evidente durante parte do jogo e, ontem, o treinador insistiu nessa máxima. "Reage logo à perda da bola, ou às segundas bolas", gritou bem alto para que a mensagem chegasse a todos, enquanto explicava o exercício em que persistiu no rigor defensivo, mas, ao mesmo tempo, exigiu finalização. "Os golos também contam", lembrou, dando ordens ao adjunto Semedo para os contabilizar. 
E para elevar ainda mais a competitividade, Vítor Pereira dividiu os jogadores de campo em duas equipas de dez elementos. De verde, Sapunaru, Maicon, Tiago Ferreira, Addy, Castro, João Moutinho, Kelvin, Djalma, Christian e Walter; de laranja; David, Rolando, Otamendi, Sereno, Souza, Rúben Micael, James, Hulk, Varela e Kléber. 
Esta distribuição dos coletes deixou algumas mensagens interessantes: Rolando e Otamendi mantêm-se juntos na defesa; James, que hoje já não estará a treinar, foi incluído num meio-campo com Rúben Micael e Souza e Kléber ao lado de Hulk e Varela no ataque (ver peça em destaque).

Voltando ao exercício, numa primeira fase Vítor Pereira pediu "saída individual em condução de bola antes do remate". Primeiro sem oposição, depois com. "Ganha posição, remata à baliza e vai logo defender no um para um", explicou. A bola rolou e foram marcados 12 golos, com os "laranjas" a golearem por 9-3. Ninguém bisou e foram poucos os que ficaram em branco.

A seguir, aumentou o grau de dificuldade. "Agora quero aos pares. Antes do remate tem que haver pelo menos um passe. Primeiro sem oposição, depois com." Vítor Pereira exigiu circulação para evitar que os jogadores se agarrassem em demasia à bola e se perdessem em lances individuais. "Reage rapidamente às segundas bolas; posicionem-se defensivamente", pediu. O empenho foi máximo, valendo os parabéns do técnico. Mais uma vez foram marcados muitos golos. Maicon, Christian e Djalma bisaram, cabendo ao angolano o golo mais bonito. Kléber e Walter também facturaram.

Apanha-me se puderes

Desta vez não houve meiinhos na fase inicial do treino. Filipe Almeida, o novo preparador-físico dos dragões, preferiu um exercício sem bola que fez os jogadores recuarem ao tempo da escola. Numa versão simplificada, tratava-se de correr atrás do companheiro até o apanhar, mas com várias dificuldades pela frente: estacas, bonecos e barreiras. A ideia era ir contornando esses obstáculos, usando-os para "fintar" o perseguidor.

"Quero intensidade máxima", pediu Filipe Almeida, depois de um ligeiro puxão de orelhas um dos grupos que estavam a conversar enquanto o adjunto explicava o que pretendia. "Estou a falar, ok? Depois vão-se enganar", atirou, exigindo respeito e silêncio. Aliás, a imposição de autoridade por parte de Filipe Almeida tem sido uma constante neste estágio, que se entende pelo seu feitio e pela idade. 
Aos 30 anos, é um jovem preparador-físico de uma equipa de elite, consciente de que só com essa postura conseguirá manter os jogadores na ordem. O que não quer dizer que seja um ditador nos relvados, aliás a opinião geral é de que o FC Porto acertou em cheio - métodos inovadores e grau de exigência máxima - na escolha do substituto de José Mário Rocha.


Kléber ao lado de Hulk e Varela
Há um duelo no plantel do FC Porto por uma vaga no ataque. Kléber e Walter lutam por um lugar no onze - caso se confirme a saída anunciada de Falcao - ou no banco, na condição de primeira alternativa a El Tigre e o facto é que o reforço contratado esta temporada parece partir em vantagem. Os sinais não são muito evidentes, mas ontem, no meio do treino, O JOGO identificou uma pista das preferências do técnico que juntou Hulk, Varela e Kléber no ataque. Em concreto, dividiu os jogadores de campo em duas equipas de dez elementos, deixando deixou algumas mensagens interessantes, a mais evidente das quais foi mesmo a colocação de Kléber ao lado de Hulk e Varela, uma aposta consistente para o tridente ofensivo, pelo menos até Falcao voltar. Nada que impeça Walter de alimentar a esperança de fazer da segunda época no FC Porto a da sua afirmação definitiva. Aliás, o hat trick marcado no jogo com o Gutersloh demonstra que o brasileiro não baixou os braços, encarando o aumento da concorrência no ataque como um desafio. Um duelo do qual já resultou um claro vencedor: Vítor Pereira.

Fernando continua parado
Fernando continua a fazer companhia a Belluschi e Rafa no ginásio de Marienfeld. O brasileiro tem tido alguns problemas musculares neste arranque de preparação e, por isso, está um pouco abaixo dos companheiros no que diz respeito ao ritmo de trabalho. Ontem, ficou-se pelo tratamento e ginásio a uma entorse ligeira no tornozelo esquerdo, sofrida no treino da tarde de sábado e que o obrigou a falhar a partida com o Gutersloh. Ainda não é certo que esteja em condições para os particulares do fim-de-semana. Os outros clientes do departamento médico também não foram vistos nos relvados do hotel Klosterpforte, mas O JOGO sabe que Belluschi está perto do regresso e até é bem provável que seja utilizado num dos dois jogos que restam no estágio. Rafa não terá a mesma sorte, contudo a recuperação também está a decorrer a um ritmo que deixa os médicos optimistas.

David, O economista tranquilo
No livro de Graham Greene, o "Americano tranquilo" é um Alden Pyle, um agente americano que acaba por disputar o amor de uma vietnamita com um jornalista inglês há muito amante desta. David não está envolvido num thriller passional, mas também ele se prepara para desafiar o poder instituído, no caso de Sapunaru e Fucile.
O jovem dragão não é americano, mas podia ser muito bem conhecido por "tranquilo."

São os ex-colegas que o dizem. "Não escreva nada dele sem dizer que é tranquilo, sossegado e certinho", aconselha Hugo Sousa, central do Brasov e também ele ex-júnior do FC Porto. "Quase só falamos de futebol e assuntos sérios", completou Amorim, outro ex-júnior dos dragões. Pipo, agora no Santa Clara, fala de um amigo "com a cabeça no lugar e que cumpre sempre o que se propõe fazer". Talvez por isso, o jovem não tenha desistido de estudar e tenha completado com sucesso o primeiro ano do curso de Economia.

David está a ser uma agradável surpresa. Contra o Gutersloh foi titular, fez uma assistência para golo [de Kléber] e mereceu elogios do treinador. "Correu muito bem e fiquei muito feliz por isso. Toda a equipa me ajudou. Deixaram-me tranquilo e confiante. O Kléber disse logo obrigado. O mister deu-me os parabéns e disse para continuar a trabalhar e a evoluir", recorda. O sonho é jogar a Champions. "Era extraordinário jogar a Liga dos Campeões. Quanto à equipa, a base mantém-se e por isso penso que vai ser mais um ano cheio de conquistas", resumiu. 
O discurso pausado está em sintonia com a imagem de rapaz pacato, mas o conteúdo é mais empolgante. Apesar da idade (19 anos), não há espaço para reservas. "Sapunaru e Fucile são as referências" e jogadores que ambiciona "igualar" para depois "ganhar-lhes o lugar." Fucile só hoje chega, mas Sapunaru já conhece as suas intenções. "Já lhe disse! Mas é uma competição saudável. Somos todos amigos", sorriu. "Já tenho a mística e quero ser jogador do FC Porto", fechou.

Hugo Sousa
"Nos jogos de nervos, mantinha sempre a tranquilidade. Nós fazíamos algumas brincadeiras, mas ele pouco participava"

Pipo
"Não se mete em grandes festas. É inteligente e uma pessoa cinco estrelas. Deitava-se sempre cedo"

Amorim
"Ele dá-se bem com toda a gente, mas não tenho muito para contar pois ele é reservado e muito direitinho"



De extremo a lateral improvável
Se agora se discute se David é lateral-direito ou esquerdo (ele confessa preferir a direita), noutros tempos a dúvida foi entre extremo e lateral. Foi Álvaro Silva que o recuou no terreno. "Na altura ele fazia muitos golos e assistências e todos diziam que não era uma decisão acertada. Afinal foi", recorda Pipo. Nos estágios, David era dos primeiros a recolher ao quarto e só o "poker online" o fazia perder algumas horas de sono. Conta quem o conhece que o talento não se esgotava nesse jogo, mas sim em tudo que envolvesse cartas.

Marcar Hulk para estar pronto para tudo
Natural do Porto e a residir no Carvalhido, David é portista desde pequenino e está a "cumprir um sonho." Até ao ano passado, ia sempre ao Dragão ver os jogos do FC Porto com o pai. "Não faltava a um", confirma Hugo Sousa. "Estar no estágio é um motivo de grande orgulho. O objectivo é continuar no plantel, mas há muito a trabalhar para conseguir evoluir", resume o lateral, que mesmo sabendo que "se calhar sendo emprestado teria oportunidade de ganhar ritmo e jogar mais vezes", prefere ficar no FC Porto. "A concorrência é mais forte e, se calhar, posso aprender mais", explica. Com Hulk, por exemplo. "Se os melhores do mundo acham difícil marcá-lo, que direi eu. Mas é uma maneira de exigir mais de mim e poder evoluir ainda mais. Se conseguir encarar Hulk, que é dos melhores do mundo, com naturalidade, nos jogos irei ter mais facilidade com outros adversários", raciocina.


James "levou" parabéns
Na véspera do adeus, James Rodríguez não teve como escapar a uns valentes "cachaços" e alguns tabefes por parte de todo o plantel. Tudo aplicado com o máximo carinho por um dos jogadores mais jovens do plantel que ontem ficou um pouco mais velho. James segue hoje para o Mundial de sub-20, mas já conta 20 anos completos...

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