Dei voltas à cabeça tentando encontrar
o vocábulo mais adequado aos muitos momentos de vibração que experimento no
majestoso Estádio do Dragão sempre que lá entro.
Vibração já em si é um bom vocábulo, mas não é só isso que eu lá dentro vivo.
A vibração é um fenómeno físico,
sinónimo de oscilação mecânica, muito rápida e mensurável.
Não, não é vibração aquilo que lá
experimento. É vibração, mas uma vibração que me atira para níveis superiores
de sensibilidade, exaltação e sublimidade.
Quando o FC Porto marca aquele golo ao
Benfica, e também aos grandes clubes europeus, como o Real, o Liverpool, o
Bayern, o United, o City e outros que são pares do FC Porto no nosso
Continente, quando as bancadas fremem de emoção, porque ainda não estamos a ganhar,
porque já estamos a ganhar, porque estamos a perder ou porque virámos o
resultado, aquele sentimento é mais do que uma vibração, sem dúvida, é um
estremecimento. Um estremecimento.
“Estremecimento” foi a palavra que
encontrei, de todas as que analisei, para traduzir aquela devoção, paixão e
aturdimento a que me entrego naqueles momentos.
Eu sei que “estremecimento” também
pode ser utilizado como oscilação, num tremor de terra, ou no rebentamento de
tiros de pedreira, por exemplo. Mas “estremecimento” tem um degrau superior de
comoção e abanão interior.
Não “estremece” a mãe de amor pelo
filhinho que tem ao colo? Não “estremece” de alegria, quando ele já gatinha,
quando ele já diz “mamã”, quando ele já anda?
Pois bem, quando eu vejo o Porto no
Dragão, basta a equipa a entrar, “estremeço” de emoção.
É curioso que o estremecimento de cada
um, somado ao de cada um dos outros, provoca o estremecimento global da massa
associativa, e o estremecimento global da massa associativa ainda potencia mais
o de cada um.
As claques do Porto, abençoadas sejam,
tanto os Super quanto a Curva Norte (Colectivo) contribuem muito para o
estremecimento global.
Infelizmente a grande maioria dos
associados presentes no Estádio é dum comodismo inaudito. Levanta-se e grita
quando é golo, senta-se e come pipoca o resto do tempo.
Eu sei que tudo isto é Porto, mas
custa-me ver o nosso estádio caladinho, durante os jogos – às vezes jogos muito
importantes – silêncio apenas interrompido quando de um golo ou de um
quase-golo.
Bem hajam as claques, repito, a dos
Super e a do Colectivo, que tentam contrariar esta tendência para o quietismo.
Quando olhamos para os estádios do
Liverpool, do Celtic, da Sampdória e doutros, tantos, pela Europa fora, em dias
de jogo, e depois para o Dragão, vemos a diferença da adesão de toda a massa
associativa aos cânticos, que não existe no Dragão.
As claques do FC Porto têm que se
transformar, crescer, alargar, cativar o resto da massa associativa com o seu
comportamento pacífico e festivo, com os seus cânticos renovados – porque não
aproveitar canções do cancioneiro tradicional português adaptadas com letras
alusivas ao FC Porto?
O Estádio do Dragão todo de pé, os
cachecóis azuis e brancos no ar, os adeptos de camisola igual à dos jogadores,
tudo a cantar o Porto Sentido de Rui Veloso, por exemplo, será que algum de nós
perderia tempo a ouvir o “You’ll Never Walk Alone” do Liverpool?
Aí o meu “estremecimento” atingiria os
píncaros da sensibilidade humanamente possível.
4 comentários:
muito bom!
somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!
saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todas(os) vós! ;)
Miguel | Tomo II
Boa tarde amigo azulibranco,
Parabéns uma vez mais, tem-nos presenteado com post's cheios de emoção e este em particular descreve como ninguém o sentimento que se vive no Dragão.
Eloquente e lindo!
Obrigado pelo seu fantástico contributo para este nosso blog.
Abraço e bom fim de semana
Paulo
Obrigado, Dragus, pelas suas palavras encorajadoras.
Continuarei.
Obrigado, ℙΣ₦₮∀ ➀➈➆➄℠, pelo seu comentário.
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