Em 18 de Setembro de 1996, o FC Porto, na segunda mão da Supertaça, foi à Luz vencer o Benfica por cinco bolas a zero. Este foi um jogo que ficará para sempre na memória de todos os portistas e que hoje, 14 anos depois, aqui recordamos com um artigo que foi publicado no maisfutebol, no qual entrevistam o austríaco Arnorld Wetl, que apontou o golo mais bonito do desafio.
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A Supertaça escreve-se com histórias assim. Tolhidas pela surpresa, cobertas num manto de opereta, perdidas na doença congénita que é a saudade. A que lhe recordamos agora, em jeito de lançamento ao jogo de sábado, trai a altivez dos benfiquistas e eleva o sentimento portista. É um jogo único, de resultado absolutamente improvável: 0-5 para os dragões, em plena Luz.
18 de Setembro de 1996, o dia da maior das desfeitas. Aos três minutos já o F.C. Porto celebrava um golo de Edmilson. Antes do intervalo, mais um, anotado por Artur. Na segunda parte, a tragicomédia adensava-se. Jorge Costa, Arnold Wetl e Drulovic, três facadas cirúrgicas a dilacerar o orgulho encarnado.
Herói acidental, desorientado na frente de uma batalha ancestral, Wetl teve uma exibição perfeita, paradoxal à sua passagem efémera pelo F.C. Porto. 14 anos depois, sem corromper a realidade, recorda tudo ao Maisfutebol através de uma pulsão aforística.
«Que noite! Lembro-me perfeitamente desse golo. Foi um dos mais belos momentos da minha carreira. Recebi a bola fora da área, rematei com toda a força, de pé esquerdo, e estremeci com o barulho. Tinha acabado de marcar ao grande Preud Homme. Na Áustria ele era um deus», conta o antigo internacional austríaco, médio generoso, embora privado de grande talento.
«O António Oliveira deu-me um abraço de dez minutos»
Para Wetl esse Benfica-Porto tinha começado muito antes. Há poucos meses em Portugal, desconhecia a verdadeira amplitude da guerra fria entre os dois emblemas históricos. Mas houve quem o ajudasse a perceber.
«Na viagem de autocarro e no balneário o Jorge Costa e o Paulinho Santos fartaram-se de falar comigo, às vezes aos berros, a dizerem que tínhamos de ir para cima deles», diz, numa gargalhada saudosista.
«Sinceramente, tínhamos uma equipa muito superior. O treinador António Oliveira era um homem inteligente. Acho que não apreciava a minha maneira de jogar. Tinha esse direito. Mas na Luz deu-me um abraço que durou dez minutos! Estava louco!»
Arnold Wetl leva uma vida pacata na Áustria. É o treinador da equipa de sub-17 do Sturm Graz, continua a repelir os tiques snobistas da capital Viena e segue com pouca atenção a liga portuguesa.
«Joguei poucas vezes e tenho pena. Foi a melhor experiência desportiva da minha vida. Quando saí de Portugal fui para o Rapid Viena e, essa sim, foi uma má decisão. As pessoas de Graz não se dão bem com as de Viena e paguei por isso.»
«O melhor? Conceição, Zahovic, Drulovic ou Jardel»
A conversa telefónica escorre ritmada, incomodada somente com o choro dos filhos de Wetl. Há prioridades e o ex-jogador do F.C. Porto pede-nos desculpa pela despedida abrupta. «Tenho mesmo de ir deitá-los.»
Antes do adeus, uma última pergunta: quem era o melhor jogador daquele Porto da época 1996/97? «Não sei, é difícil responder. O Sérgio Conceição tinha uma velocidade e uma força incríveis, o Zahovic jogava muito e também gostava muito do Drulovic... ah, e o Jardel, claro. Era um rapaz especial. Ainda joga? Na Bulgária? Não fazia ideia.»
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